Mirtes Sulpino e seu amor às palavras voltadas para as crianças
- Iêda Lima
- 21 de set.
- 3 min de leitura
Em maio de 2025 recebi um pacote da minha confreira da Academia de Letras de Campina Grande (ALCG), com três lindos presentes acompanhados de uma carta.
Eram livros infantis, “frutos de um afeto antigo pelas palavras e pelas infâncias que elas acolhem, especialmente das minhas raízes caririzeiras”, ou seja, do Cariri paraibano.
Dois deles, A preá que engoliu o gato, Plural Editorial 2020, com ilustração de Valéria Rodriguez, que recebeu o Prêmio Maria Pimentel; e Era uma vez, Ciço o Calango Rei, Editora Papel da Palavra 2024, com ilustração de Régis Ramos.
Esses dois foram, segundo a autora, “especialmente para você, que conhece tão bem o valor da infância e das nossas memórias afetivas”.
O terceiro, Brincadeira de Papel, edição própria 2025, ilustrada por Joel Pereira, foi direcionado “às mãos curiosas e aos olhos sonhadores dos seus queridos netos (os mais novos de 6 e 4 anos), para que descubram o mundo como quem abre um presente...”.
Ao final da carta, Mirtes Sulpino mexe com o meu coração e me faz chorar, quando diz algo que tenho dúvidas se eu mereço: “Receba este gesto como um abraço, com a gratidão de quem aprende sempre com você, não só sobre literatura, mas sobre a vida. Que a escrita continue sendo seu abrigo e sua travessia, sempre em busca das novidades da vida. E que em breve possamos nos encontrar.”
A vida quis que nos encontrássemos no dia do lançamento do meu romance O Resgate, em Campina Grande, no Museu de Arte e Ciência – MAC, no qual houve participação intensa de confrades e confreiras da Academia de Letras de Campina Grande, da qual somos membros efetivas dessa valiosa instituição presidida pelo nosso grande Thélio de Queiroz Farias, de outros valiosos intelectuais e nascidos ou adotados em Campina Grande, além de queridos familiares. Antes, virtualmente, pois ela me deu apoio prévio nos contatos com o MAC.
A Doutora em Letras, pela Universidade Federal da Paraíba, Isabelle Pires, autora do livro A poesia em movimento: literatura interativa, na sala de aula, em sua apresentação da obra A preá que engoliu o gato, fala que a história “se passa no Bioma mais conhecido da região Nordeste...A versátil historinha desperta um encantamento para a diversidade naquele lugar...quando oferece aos leitores a apreciação dos muitos bichinhos e seus costumes...A autora consegue a proeza de criar uma ciranda dos bichinhos num cenário de xique-xiques, adornado de coloridos azuis-anis, verdes-floresta e amarelos-pôr do sol típicos da região”.
Eu completaria esse bordado, com as memórias do meu tempo no São Vicente de Paula, dizendo que nessa sua obra voltada para “todos os meninos e meninas sonhadores deste imenso Cariri” Mirtes Sulpino convida crianças nascidas em todas as regiões do país a conhecerem o Preá, o Tatupeba, o Pé de Umbu, O Guiné (Tô fraco! Tô fraco! Tô fraco!), o Azulão e a Asa Branca.
Além disso, a autora faz um convite aos pais e avós a estimular os pequenos a aceitarem um tempinho ouvindo historinhas, ao invés de celular e TV.
Na segunda obra de Mirtes Sulpino, Era uma vez Ciço, o Calango Rei, o mandacaru está presente, assegurando o verde do Cariri paraibano, com sua linda flor branca, além da Palma, ambos tão íntimos para mim, quando criança fiquei um tempo na fazenda do meu avô paterno, junto com meus irmãos e sob os cuidados da minha mãe guerreira, por conta da coqueluche que nos derrubou.
Era um tempo sem chuva, como aparece na historinha do Calango, calçado nas suas percatas de couro e cabeça protegida com um chapéu de cangaceiro, que tinha uma pedra brilhosa, que iluminava seu caminho, por onde passava. As percatas, para quem não sabe, é um tipo de calçado popular nordestino, geralmente feito por um solado de borracha e com tiras de couro. As primeiras alpagartas são de origem árabe, que foi popularizada na Europa e na América.
O Calango, “um bicho arretado...arteiro, conversador, todo cheio de lorota e cativante...dizia que era imperador e que o lajedo todinho era o seu reino encantado!”
Ele chamou a atenção da bicharada do Cariri porque pediu para a aranha que estava no umbuzeiro, que tricotasse seu manto de nobre rei, pois o dia da sua coroação estava chegando. O azulão foi chamar os bichos da região para ouvir a história da sua própria boca. Vieram o Mocó, a Lagartixa, o Concriz e o Cururu, que acabaram se convencendo que o Calango era mesmo um Rei forte e destemido.
Sobre esta obra, importante que os pais, avós e professores ajudem as crianças a entenderem que mesmo sendo um bichinho pequeno como um calango, ele pode se sentir rei do seu ambiente; porém, espalhando amor e respeito ao outro.

Comentários