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Esboço em Pedra e Sonho, de Marília Arnaud

  • Foto do escritor: Iêda Lima
    Iêda Lima
  • 22 de jun.
  • 3 min de leitura

Neste seu quarto romance, Esboço em Pedra e Sonho, da Editora Faria e Silva, 2024, Marília decidiu criar personagens que sofreram desde crianças, não apenas por terem tido problemas familiares com pais que deixaram as mães, mas pela seca, fome, falta de conhecimento, desemprego e pelo ambiente que passaram a vivenciar, indiretamente, quando presenciaram pessoas da sua própria família ou de outras da pequena cidade onde moravam sendo perseguidas pelo que pensavam a respeito do mundo e de como resolver as grandes diferenças sociais.  Porém, em meio a tudo isso havia amor, apoio e resistência.

O presente alternado com o passado da personagem principal, Romana, conecta o leitor com a obra de tal forma que ele resiste em parar. Os segredos vão sendo descortinados aos poucos, num estilo poético e surpreendente, até entendermos a complexidade da vida de cada personagem, em especial da Romana.

Para embelezar mais ainda seu romance, Marília destaca grandes obras de arte mundial, incorporadas no gosto de Romana que se tornara pintora, saindo da sua cidade natal, a contragosto da família, para estudar arte. Sua avó, que já havia falecido antes de ser adotada pelo avô, também havia pintado.   

Dentre essas obras estão a Leiteira (1658) de Johannes Vermeer; Guernica (1937), do espanhol Pablo Picasso (1881/1973); O Jardim das Delícias Terrenas, do brabantino, da antiga região histórica que atualmente divide entre Bélgica e Países Baixos, Hieronymus Bosch (1450/1516); Pinturas Negras, do espanhol Francisco Goya (1746/1828); Ninfeias, do francês Claude Monet (1840/1926); e Medusa, do italiano Caravaggio (1571/1610), dentre outros. Assim como ela embelezou seu romance O Pássaro Secreto, com belíssimas músicas clássicas, este ela carregou nas obras de arte, o caminho seguido pela sua personagem principal.

Uma mescla de filosofia e poesia acompanha todo o roteiro do Esboço em Pedra e Sonho, marcando uma estética linguística de quem domina seu idioma, incluindo a linguagem própria da região natal dos seus antecedentes, interior da Paraíba.

Eis alguns dos tantos momentos que o leitor é presenteado com a qualidade estilística da escritora nascida em Campina Grande/PB, Marília Arnaud:

Romana:

“...Durante anos, estive certa de que a arte da Avó me sensibilizava por eu tê-la conhecido ainda garota. Contudo, para além das cores e simbologias, reparo agora na linguagem forte e honesta, na psicologia pungente, e me pergunto como ela, sem nenhum estudo, sem nenhuma noção de plano e perspectiva, volume e profundidade, conseguiu criar este que poderia ser um autêntico Ary Sheffer...”, pintor francês-neelandês, do Romantismo (1795/1858).

“...O mundo deve ter nascido na Micaela (fazenda do Avô), nem mais nem menos com o riacho. Sim, foi lá que Deus, com as mãos besuntadas de milagre, levantou as tranças de águas, arremessou-as sobre as cacundas dos lajedos e as fez marretar as goelas escancaradas dos imensos caldeirões de pedra, num estrondo de galopes e cantigas de vento...”

“...Tenho a sensação de que o meu corpo se cobre de asas e penachos, que adejo numa correnteza de estrelas, e isso, eu sei, é felicidade...”

“...Deixamos a cidade debaixo de um céu de nuvens esfarrapadas, a manhã branca e doce como uma goiaba madura. No meio do corruchiado dos pássaros, um balido de ovelha. A beleza do mundo é uma escada para o Céu, e eu estaria feliz agora, não fosse a escureza dos meus pensamentos. Quem omite, trai?...”

“...Da primeira vez, a despeito do teu fim, eu era jovem, meu coração entoava um sonho de possibilidades...Agora, ouço a canção do tempo, e me recordo de quando ele se curvava para me deixar passar....”


Marília está de parabéns por mais um excelente romance! Recomendo.



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Iêda Lima

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