Um judeu amante da paz e das letras
- Iêda Lima

- 25 de mai.
- 2 min de leitura
Neste maio de 2025 tive a oportunidade de conhecer o judeu, mineiro de Belo Horizonte e residente em Brasília, Nathan Kacowicz, que criou uma banca itinerante chamada Salada de Letras, especializada em livros de autores brasilienses ou residentes em Brasília. Foi lá que encontrei o livro Reaja, de Cristóvam Buarque, o qual li com muita vontade de conhecer o que esse grande intelectual havia escrito em 2012. Saí de lá também com dois livros escritos por Nathan, sendo o primeiro intitulado “Branco”, de 2019, e o segundo um conjunto de poemas, de 2021, ambos da Outubro Edições. Há muito que minha amiga Fátima Siqueira, escritora pernambucana, residente em Brasília há anos a perder de vista, queria me apresentar ao Nathan e eu não encontrava motivações para levar meus livros à Salada de Letras, pois o câncer que me abateu desde outubro de 2024 me deixara sem muito ânimo, para seguir a escolha que havia feito após a minha aposentadoria. Não somente fiquei surpresa com a qualidade dos livros da banca de Nathan como estive mais uma vez lá atrás de outro livro de Cristóvam, que ele lançou na minha terra, dia 05 de novembro do ano passado.
Apesar de uma pilha de livros que aguardam minha leitura, decidi conhecer logo o estilo literário de Nathan, esse simpático e amante da literatura. Confesso que fui surpreendida, pois o primeiro livro é composto por treze contos que ele escreveu com apenas 15 anos de idade. O professor e poeta Marcos Fabrício Lopes da Silva, quem fez o prefácio do livro “Branco” diz que “o escritor desconfia dos personagens. O personagem parece desconfiar de si mesmo”...
Os contos são minimalistas e secos; são capazes de assustar o leitor com a maneira como faz os personagens manifestarem o pior da sua alma, reagem e são capazes de se afundar novamente. Isto de uma ficção de um adolescente.
O poeta Marcos Fabrício diz que “o leitor se depara, entre outras coisas, com a poética do incômodo”. Por outro lado, Nathan deixa transparecer em alguns de seus contos que a “essência só se deixa perceber quando se está sozinho”. Para essa reflexão, ele usa o espelho como objeto da maioria dos seus contos.
Já o seu segundo livro, “Poeta de Maiô”, Nathan reúne 36 poemas escritos entre 1919 e 2021, dedicados aos filhos e netos, no qual ele abre a janela do seu coração, para expressar sua alegria em viver, mesmo aqueles que ele escreveu durante a pandemia, pois o isolamento afetou suas emoções.
Dentre os lindos poemas que compõem esta obra, presenteio esses dois que ele escreveu, expressando amor:
Luz
Sempre ouvi dizer
Que nada superava a velocidade da luz
Ledo engano
Você
Chegou muito antes
E daí sim
A luz se fez pra mim
Andorinha
Minha janela adentro
Andorinha entrou
Fez ninho e germinou
Sabedoria e beleza
EM MEU CORAÇÃO
A vi cuidar de três filhas com um só dedo
Enquanto com o pé acariciava o cão
Como dizer NÃO
A quem semeia
E persevera com a vida?

Como foi bom ultrapassar minha zona de conforto e conhecer um judeu da paz!




Comentários