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Iêda Lima: destemida e destinada

  • Foto do escritor: Iêda Lima
    Iêda Lima
  • 5 de ago.
  • 5 min de leitura

Crônica elaborada pela escritora paraibana de Campina Grande e lida na sua apresentação da mais recente obra literária de Iêda Lima, o romance fictício intitulado O Resgate, lançado no dia 01 de agosto de 2025, na Livraria da Travessa do Casa Park, em Brasília/DF.


Gosto de pensar que a palavra me uniu, me pôs em contato, me fez conhecer Ieda Lima.

Olhando no dicionário, escolho a acepção do termo que o coloca como um veículo para Expressão de sentimentos ou opiniões: Usada de forma figurada para transmitir emoções.

 

Não falo ainda em livro ou literatura. Nosso caminho se fez e se faz pela Palavra.

 

Foi ela quem nos colocou, aparentemente, pela primeira vez, em um espaço em comum. A praça da Superquadra 410, em meio à primeira edição da ANTA – Anfifesta Literária da Asa Norte.

 

Eu usei da palavra. Em mesa que abordava o gênero crônica. Ieda usou da palavra. Para me abordar, apresentar-se a mim, me convidar para ocupar este espaço, o de apresentadora de seu livro, O resgate, lançado nesta noite de primeiro de agosto de 2025, na livraria Travessa, em Brasília.

 

Disse que ocupamos aparentemente o mesmo espaço pela primeira vez, porque descobrimos ser da mesma terra, portanto, erguidas sobre a mesma raiz, a cidade de Campina Grande, na Paraíba.

 

Bastaria isso para que a emoção de nos sabermos conterrâneas fizesse surgir um vínculo novato como um broto, mas profundo como as entranhas de uma árvore do cerrado.

 

E aqui estou. Aqui estamos.

 

Entre aquele primeiro dia e este, havia um café no meio do caminho.

 

Em que, com delicadeza e fugindo de pressa e excessos, pude conhecer um pouco mais dessa mulher.

 

Feita de seiva rara, forte, resiliente, destemida e destinada.

 

Uma mulher que saiu de sua cidade para estudar – no meio tempo precisou trabalhar, conhecer novos mundos que a atraíram, como o da política, e não se negou a viver nada do que quis da vida ou que a vida forjou, como a querer dela.

 

Iêda Lima se negou a ratificar a ditadura instalada no Brasil. Foi presa. Estava grávida. Exilou-se no Chile. Depois, como ela afirma, passou por um exílio dentro do exílio. Morou em países e cidades diversas.

 

Estudou e se graduou. Economia de transportes. Estudou e fez mestrado. Estudou e fez doutorado. Ocupou cargos de liderança e destaque na área escolhida. Escreveu livros – no primeiro, Um olhar no Retrovisor e Outro na Estrada, ousava abrir a Caixa que guardava as informações do seu passado. Voava para dentro de si. Meio de transporte que a aproximava da palavra. Matéria escolhida por ela desde a infância. 

 

 

Também escutou e transpôs para o papel, o Ruído do Silêncio.

 

 

Antes - e sempre - escrevera documentos e outros registros técnicos. Colunas, artigos.

 

 

A verve cronista andava sempre à espreita. Assim como a poética.

 

 

A literatura antes vista como um sonho. Como um lugar a se ocupar e a ser ocupado com vagar. Sem sobreposições. Em tempo vindouro. E esse tempo seria após a aposentadoria. Em planejamento que se concretizou, a partir de 2014.

 

 

Hilda Hilst diz que uma mulher precisa de um teto todo seu para poder escrever. Ieda, em posse do teto, queria mesmo era o tempo.

 

 

Mas o compositor de destinos colocou nele dois grandes desafios – uma pandemia, que atingiu o mundo todo e uma doença que, atingindo Ieda, a fez duvidar e temer não conseguir usar seu tempo para escrever, como prometera a si.

 

 

Mais uma vez, desafios vencidos, ela chega ao dia de hoje. Presente. Tempo presente. Presente. Um regalo que nos oferta. Ao se dedicar à escrita primorosa de uma obra que nos toma de forma delicada e intensa e nos leva a percorrê-la com respeito, reverência e admiração. Como mãe e filha que se dão as mãos para caminhar.

 

 

O Resgate intercala histórias diferentes que se cruzam. Interesses diferentes que se digladiam. Famílias forjadas pela ambição. Segredos de família – desses que sabemos existir.

 

 

Referências que nos carregam para histórias, nomes, artistas, males, sagas, que conhecemos.

 

 

Decepção. Amores. Falta de escrúpulos. De um lado, a maior rede criminosa do país. De outro, o resgate também da possibilidade de se viver. Após um caos nos valores, na ética, na saúde pública, sabidos por nós por meio de reminiscências.

 

 

O tempo é futuro. Mas sabemos e tememos. É presente. O país é fictício. Mas seu modo de fazer política, dinheiro, relações tem muito de Brasil. A cidade, distante de nós, mas suas referências, suas fauna e flora, muito chegadas ao Cerrado, denunciam que poderíamos estar em Brasília.

 

 

Novas tecnologias e a inteligência artificial mediam as relações. Mas as almas continuam a carregar seus dilemas. De mães. De mulheres. De pessoas pobres. De quem trai. De quem chantageia. De pessoas ricas. De quem não saiu do armário. De oprimidos e opressores. Vida no sumo da matéria.

 

 

No final, entendemos a origem do título. Mas há mais de um resgate aí. Aliás, são muitos. Inclusive aquele que só a interação entre uma pessoa leitora e uma obra, que só a arte, que só um trabalho esmerado é capaz de proporcionar.

 

 

Iêda criou, com a filha, (são cinco filhos e dez netos no coração desta mulher) uma editora para – hackear – termo que caberia bem em sua obra – o sistema, para duvidar do cânone literário e apenas escrever e se inscrever nele – como é ou transformado noutro.

 

E porque raiz forte sempre brota e se multiplica, ela buscou parceria em Campina Grande, onde tem assento na Cadeira 34 da Academia de Letras.

 

E com Papel da Palavra e Gazebo Literário, com saúde e com afeto, Iêda Lima entrega ao público o romance O Resgate. São 331 páginas. 49 capítulos. Muitos amigos e desafetos que vamos criando ao longo de sua leitura.

 

Félix Araújo Filho diz, em sua apresentação, que Iêda usa a engenharia da palavra. Ele diz que as páginas são um convite para explorar as nuances de sua estética e ultrapassar essa relação.

 

No prefácio, Damião Ramos Cavalcanti lança a ideia de que o livro se transforme em filme. E diz, que O resgate, significa e retrata livramento e libertação.

 

Eu sugiro que, em posse do livro, criemos nossas próprias relações, significados e definições. Buscando um resgate de algo em nós, que só saberemos ao final.

 

Waleska Barbosa

 

Brasília,  1 de agosto de 2025

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