top of page

Duas mães em lados opostos

  • Foto do escritor: Iêda Lima
    Iêda Lima
  • há 6 horas
  • 3 min de leitura

Neste Dia das Mães, lembrei-me da provocação feita pelo amigo filósofo e escritor Damião Ramos Cavalcanti, para ler "A Mãe", de Máximo Gorki, em sua crônica publicada no jornal A União desta sexta, 09 de maio.

 

A obra recomendada destaca a evolução de uma mãe que, de uma mulher dependente e profundamente submissa acompanhou as mudanças da sociedade russa, na sua época, apoiando a luta que seu filho havia decidido travar para melhorar as condições de vida dos trabalhadores.

 

Isso me fez lembrar de algo reverso, quando em 1969 eu soube que estava grávida, em meio à minha participação de resistência à Ditadura Militar, que havia se instalado em 1964, envolvimento este muito limitado, pois além de trabalhar durante o dia eu fazia o curso de História à noite, na Universidade Católica de Pernambuco. Eu dava apoio logístico elaborando e distribuindo panfletos na escola. E quando podia, saía para as manifestações de rua. Um dia, consegui um local para uma reunião de líderes estudantis, colegas do meu companheiro. Eles foram presos e a repressão conseguiu obter informações sobre mim.

 

Quando eu soube da gravidez foi logo depois de passar quase 2 meses na prisão, durante a qual era obrigada a dizer quem eram e onde estavam as figuras das fotos que eles espalhavam na mesa, lideranças que eu não conhecia. Apanhei muito de palmatória, para confessar.

 

Assim que fui libertada, eu e meu companheiro fomos obrigados a sair dos nossos cursos e eu fui expulsa do meu emprego.  Decidimos nos esconder no sul do país, pois já não havia mais condição de preservar nossas vidas e da criança, se continuássemos onde estávamos e nas atividades que estávamos envolvidos. Foi lá que minha filha mais velha nasceu, em 1970.

 

Aquela decisão havia sido muito difícil para mim, não apenas porque estava sustando o sonho de me formar como historiadora como também pelas dificuldades que eu como mãe e meu bebê como filho teríamos nos passos seguintes. Nós conseguimos suportar até o momento que tivemos que sair do país, pois o aperto tinha aumentado e tínhamos que nos defender.

 

O segundo filho nasceu no exílio, na Alemanha, em 1976. Lá eu pude receber um suporte razoável para abrigar meus filhos enquanto eu trabalhava e, depois, estudava. A volta se deu com os dois com 10 e 3 anos de idade, quando a Lei da Anistia foi aprovada. Na volta, decidi me dedicar exclusivamente ao trabalho e aos filhos, até que a terceira filha nasceu em 1988, já em Brasília, no ano em que foi promulgada a nova Constituição Cidadã.

 

Sempre soube dividir a minha função de mãe e de trabalhadora, valorizando meu papel de mãe, mas preservando o meu direito de me desenvolver como profissional, assim como fazem muitas mães nos dias de hoje.

 

Este é o primeiro Dia das Mães após a surpresa que tive no final do ano passado, quando descobri que tinha um câncer maligno no cérebro. Nos momentos anteriores, durante e após a grande cirurgia a que fui submetida, eu fui cuidada não apenas pelos meus três filhos que eu cuidei, mas pelos que vieram depois deles como meus genros, noras e netos, que me deram de volta todo o amor que eu havia dedicado a eles, dentro das minhas limitações. Eles me mostraram que o caminho não era apenas iluminado por mim, mas por todos eles, pois cada um carregava uma tocha. Essa postura deles me deu a energia necessária para me recuperar de uma grave crise existencial e voltar a sorrir e amar.

 

Se você é uma mãe, desejo que tenha tido e continue tendo uma linda trajetória como educadora, protetora, cuidadora e mãe capaz de escutar e acolher os seus filhos, seja em qualquer idade que eles estejam, e que saiba superar as dificuldades que todas nós encontramos na vida como mãe.

 

Se não, convido-o(a) a valorizar cada passo dado pelas mães, ainda que limitado pela própria natureza do ser humano.

Comments


VAMOS CONVERSAR?

Iêda Lima

Instagram: @iedalimaescritora

Facebook: @iedalimaa
iedalimaescritora@gmail.com

Mensagem enviada!

​SIGA-ME

  • Facebook Social Icon
  • Instagram ícone social

© 2024 por Izk Tech

bottom of page